O DILEMA DE STÉFANIE
Stéfanie (nome fictício para preservação da identidade) é uma dessas jovens clientes na faixa dos quarenta... Estudiosa, corajosa e bastante dedicada ao caminho profissional. Ora vem ao meu consultório com regularidade (fases em que usufrui da Taoterapia), ora aparece para consultas eventuais (fases em que busca apenas orientações para tomadas de decisão).
Funcionária altamente competente, divorciada, mãe de um filho adolescente que mora com o pai (seu ex-marido) em outra cidade...
O caminho de Stéfanie nos últimos cinco anos foi marcado por muitas viagens, dedicação profissional e separações mais ou menos longas do dia a dia de seu filho.
Atualmente, percebe uma última chance de conviver mais com o filho, e pensa em ir morar com ele, que está a dois anos de completar a maioridade. Segundo Stéfanie, o filhote não irá demorar muito para criar asas e sair pelo mundo.
Mas para se juntar ao filho e encabeçar um novo emprego (que já estaria garantido), teria que dar adeus a um ótimo cargo, bem como distanciar-se do segmento em que atua. Embora seu momento profissional seja pouco animador, tal decisão representaria uma suspensão de sua projeção pessoal num setor em que conquistou um ótimo avanço curricular e larga experiência. Talvez algumas portas nunca mais se abrissem para ela.
Sua dúvida era, então, se estava correto o caminho de ir morar com seu filho por tempo indeterminado, numa tentativa de compensar o “tempo perdido”, abandonando seus privilégios e correndo o risco de estagnar em seu campo de atuação.
Ao ser consultado, o I Ching mostrou que o sentimento de estagnação de Stéfanie quanto à empresa em que trabalha correspondia à realidade, era um fato, e as tendências não prometiam mudanças. Além disso, já fazia tempo que, apesar de dedicada profissionalmente e com diversas conquistas em seu currículo, Stéfanie sentia que algo lhe faltava, além da convivência com o filho. Não se sentia plena, muito menos incentivada, após tanto protagonismo em sua trajetória. Stéfanie concordou, e acrescentou que, embora não pensasse necessariamente em largar de vez sua profissão, alimentava um sonho de algum dia caminhar pelo empreendedorismo, dar mais vazão à sua criatividade.
O oráculo apontou que os riscos presentes na decisão de seguir junto ao filho existiam, de fato, e não eram pequenos. Porém também evidenciou que seria favorável valorizar o que sentia em relação ao filho, e decidir segundo este último critério, pois, no fundo, a vida estava mesmo a lhe pedir coragem – e não há coragem sem riscos. A coragem é um “mergulho no escuro”. O risco faz parte da história. Por mais que se façam cálculos, e por mais que estes sejam necessários, a incerteza é o preço da vitória.
E esta incerteza, por sinal, não é sanada pelo oráculo – ao menos não da forma como muitos gostam de pensar. Porque o futuro não está escrito. O que existem são tendências em uma escala de intensidade (das menos prováveis às mais prováveis); portanto, a função de um oráculo não é adivinhar nada, mas avaliar a propensão invisível de uma situação, tanto dentro quanto fora de nós. Sua função não é dar garantias sobre o que acontecerá, mas refletir a verdade interior da questão, ajudando a decidir com uma visão mais ampla do cenário e sabedoria interior. Essa é a única garantia que um oráculo seriamente conduzido pode trazer. Esse é o tipo de garantia suficiente para quem deseja evoluir, libertar seu Eu Verdadeiro...
A bifurcação de Stéfanie não passava de uma ilusão – assim como, lá no fundo, é o caso de todas as bifurcações... Se a vida lhe mostrava uma bifurcação, era por que na verdade havia a necessidade de ajustar o foco. O trabalho no setor em que atuava já tinha rendido o que tinha de render; claramente não estava à altura de preencher sua alma. Por outro lado, havia um filho, em meados da adolescência, cuja companhia ainda podia desfrutar... Havia um filho a ser ainda cuidado, amado, nutrido, “descoberto”, apesar das particularidades e exigências da “aborrescência”.
É certo que, se a “bússola” apontava na direção do filho, não havia também por que acreditar que seu caminho profissional podia ser VERDADEIRAMENTE prejudicado. Talvez, apenas, não fosse esse o seu caminho. Ou então era sim, porém não no momento presente, na fase atual – ou, ainda, vai ver algum emprego melhor e na mesma área estaria à espera de Stéfanie na direção do filho. Quem sabe... Tudo é momento. O importante não é saber o que vai acontecer, mas sim COMO AGIR NO PRESENTE. Escutar o coração. Afiar a estratégia. Fluir. O I Ching estava a apontar surpresas e renovações. A inteligência universal não conspira contra nós. Nós é que nos apartamos, frequentemente, de sua abundância e mistério, dificultando a vida através da desconfiança em nossa verdade interior e mais toneladas de falsas crenças.
Fizemos em seguida outra sessão, com rastreio do oráculo, desta vez para desprogramar as crenças limitantes pertinentes ao caso... Stéfanie partiu na semana seguinte para já ir adiantando sua vida na nova cidade, e, da praia, junto com o filhão surfista, solicitou-me a consulta-relâmpago pelo whats app: “O que é mais propício neste momento: alugar ou comprar o imóvel na nova cidade?”
Sérgio Lant-Tiger
Consultor & Psicoterapeuta Taoísta
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